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The original was posted on /r/portugal by /u/throwaway4838381 on 2025-07-31 10:25:52+00:00.
Todos os anos, Portugal é palco de incêndios devastadores que assolam sobretudo zonas rurais e florestais, num país onde 84% da propriedade florestal é privada.
A direita apresenta-se, quase sempre e não só neste tema, com a mesma cartilha: os problemas do país resolvem-se com "mão pesada". Seja criminalidade, incumprimento fiscal ou comportamentos de risco – a solução passa invariavelmente por penas mais duras, multas mais elevadas, menos Estado interventivo e mais responsabilização individual.
Eis que ontem, ao assistir ao programa Linhas Direitas da SIC Notícias, assisti a um daqueles momentos que merecem ser partilhados, tal foi o nível de hipocrisia.
Miguel Morgado propôs uma medida para solucionar o problema dos incêndios. Esta solução não passa por fiscalizar o cumprimento da lei (limpeza dos terrenos) nem pela aplicação de multas mais pesadas aos incumpridores. A solução passa por… subsidiar os proprietários privados pela limpeza dos seus terrenos. E, pasme-se, a Cristina Rodrigues (Chega) concordou. Sim, o mesmo Chega que vocifera diariamente contra "subsídios para quem não quer trabalhar", contra o RSI, os apoios sociais para os “malandros do costume", etc., agora acha normal o Estado subsidiar privados para cumprirem aquilo que já é, em teoria, uma obrigação legal – manter os seus terrenos limpos.
Mas não ficou por aqui. O próprio Miguel Morgado reconheceu que esta medida exigiria fiscalização e controlo para evitar fraude ou atribuição indevida... exatamente o tipo de aparato burocrático que a direita costuma criticar ferozmente quando aplicado aos apoios sociais, e o argumento que ele próprio utilizou para justificar o abandono e dificuldade da via punitiva – por ser "ineficaz e difícil de fiscalizar".
Surgem então as perguntas óbvias:
- Se o problema é o incumprimento da lei, por que não manter a linha dura habitual e aplicar multas (e mais pesadas)?
- Se subsidiar alguém para cumprir a lei é aceitável neste caso, porque não, por exemplo, subsidiar condutores a não beberem ou utilizarem o telemóvel ao volante? Porque não subsidiar cidadãos para o cumprimento de toda e qualquer lei, reduzindo assim o crime?
- Será que os subsídios só são "maus" quando vão para os pobres ou vulneráveis, mas são "sensatos" quando se destinam a proprietários ou ao patronato?
Este episódio é um exemplo claro da hipocrisia ideológica. Quando se trata de subsídios, a direita não é contra. É apenas seletiva quanto a quem devem beneficiar.